A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 97 / 359

Por fim contou tudo à mãe e encarregou-a de tentar arrancar-me o segredo, tarefa a que ela se lançou com a maior habilidade. Disse-lhe logo, porém, que a razão e o mistério de tudo residiam em si própria e que fora o meu respeito por ela que me obrigara a calar-me, mas que não podia acrescentar mais nada e, portanto, lhe rogava que não insistisse.

Ficou muda de espanto, sem saber que dizer ou pensar, mas acabou por considerar a insinuação apenas uma habilidade da minha parte e continuou a importunar-me por causa do filho, desejosa de, se fosse possível, colmatar a brecha que entre nós se cavara. Afirmei-lhe que apreciava as suas boas intenções, mas que eram impossíveis de realizar e que, se revelasse a verdade, como desejava, concordaria com a impossibilidade e nem sequer desejaria que tentássemos entender-nos. Por fim deixei-me vencer pela sua insistência e disse-lhe que ousava confiar-lhe um segredo impor- tantíssimo, como ela própria em breve concordaria, mas que só o faria se se comprometesse a não informar dele o filho sem meu consentimento.

Relutou em fazer-me tal promessa, mas acabou por se resignar, pois compreendeu que só assim lhe revelaria o grande segredo. Após muitos preliminares, contei-lhe toda a história. Comecei por dizer-lhe que o infeliz desentendimento que havia entre mim e o filho se devia ao facto de me ter contado a sua vida e o nome que tivera em Londres, revelações que, como então notara, muito me tinham perturbado. Depois dei-lhe a saber o meu próprio nome e a minha história e garanti-lhe, com provas que não poderia desmentir, que era nem mais nem menos que sua filha, a criança nascida do seu ventre em Newgate, a mesma que a salvara da forca, por se encontrar no seu seio, e que ela deixara em tais e tais mãos quando fora deportada.





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