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Capítulo 1: O gato negro

Página 3

Uma noite, ao voltar a casa, completamente embriagado, depois de um dos meus passeios pela cidade, pareceu-me que o gato me evitava. Agarrei-o; e foi então que, apavorado pela minha violência, o gato me mordeu levemente. Uma fúria demoníaca apoderou-se de mim. Perdi a cabeça. Parece que num instante a minha alma original me fugiu do corpo, e uma maldade hiperdiabólica saturada de gin penetrou em cada uma das fibras do meu ser. Tirei do bolso do colete um canivete; abri-o; agarrei no pobre animal pelo pescoço e, deliberadamente, arranquei-lhe um olho da órbita! Coro, ardo, estremeço, ao escrever esta maldita atrocidade.

Quando a manhã me devolveu a razão - depois de se terem esvaído os vapores da minha orgia nocturna - experimentei um sentimento em parte de horror, em parte de remorsos pelo crime de que me tornara culpado; mas era, quanto muito, um sentimento fraco e equívoco que não chegava a tocar a alma. Voltei a mergulhar no vício e em breve o vinho afogava qualquer memória do meu acto.

Entretanto o gato ia recuperando lentamente. É verdade que a órbita do olho arrancado apresentava um aspecto repelente, mas o bicho parecia já não sofrer. Ia e vinha pela casa como era seu costume; mas, como era de esperar, fugia aterrado sempre que me via.

Ainda me restava alguma coisa do meu antigo coração para que a princípio me afligisse esta evidente antipatia da parte de uma criatura que tanto me amara em tempos. Mas esse sentimento em breve deu lugar à irritação. E apareceu, então, como para me destruir total e irrevogavelmente, o espírito de PERVERSIDADE. Deste sentimento não se ocupa a filosofia. No entanto, tão certo como a minha alma existe, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - um dos indizíveis sentimentos ou faculdades primárias que marcam a direcção do carácter do homem.

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O gato negro 1