O Estranho Caso de Benjamin Button - Cap. 11: XI Pág. 38 / 38

Havia apenas os lados brancos e seguros do seu berço, Nana e um homem que o visitava de vez em quando e uma grande bola cor de laranja para a qual Nana apontava pouco antes da sua crepuscular hora de dormir e a que chamava «Sol». Quando o Sol se punha os olhos dele ficavam ensonados: não havia sonhos, não havia sonhos que o assombrassem.

O passado - a carga violenta à frente dos seus homens pela San Juan Hill acima; nos primeiros anos do seu casamento trabalhava até tarde, pela penumbra estival, na movimentada cidade para a jovem Hildegarde a quem amava; os dias anteriores a isso em que se sentava a fumar com o avô, pela noite dentro, na velha casa sombria dos Button na Monroe Street -, tudo isso se desvanecera como sonhos irreais, como se nunca tivesse existido.

Não se lembrava. Não se lembrava com clareza se o leite estava morno ou frio da última vez que comera nem de como os dias passavam - havia apenas o seu berço e a presença familiar de Nana. E depois esqueceu-se de tudo. Quando tinha fome gritava - mais nada. Durante as tardes e as noites respirava e havia sobre ele suaves resmungos e murmúrios que mal ouvia, odores levemente diferenciados, luz e escuridão.

Depois escureceu tudo e o seu berço branco, e os rostos obscuros que pairavam sobre ele, e o aroma morno e doce do leite desvaneceram-se por completo da sua mente.

FIM





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