Sentia-se muito feliz. As vezes, quando outros miúdos falavam do que fariam quando fossem crescidos, perpassava uma sombra pelo seu pequeno rosto como se ele compreendesse, de um modo vago e infantil, que nunca partilharia aquelas coisas.
Os dias fluíam monotonamente. Ele voltou, pelo terceiro ano, para o jardim infantil, mas tornara-se agora demasiado pequeno para compreender para que serviam as reluzentes folhas de papel. O professor falava com ele, mas, embora tentasse compreender, Benjamin não compreendia absolutamente nada.
Tiraram-no do jardim infantil. A sua ama, Nana, no seu vestido engomado de algodão às riscas, tornou-se o centro do minúsculo mundo dele. Nos dias luminosos passeavam no parque. Nana apontava para um grande monstro cinzento e dizia «elefante» e depois Benjamin repetia, e à noite, quando o despiam para se deitar, ele não se cansava de lhe repetir, em voz alta: «Elifante, elifante, elifante.» As vezes Nana deixava-o saltar em cima da cama e isso era divertido, porque, se descemos de modo exactamente certo, ressaltamos e ficamos de novo em pé, e se dizemos «Ah» durante muito tempo enquanto saltamos obtemos um agradável efeito vocal intermitente.
Ele adorava tirar uma grande bengala do cabide e andar por ali a bater com ela em cadeiras e mesas e a dizer: «Luta, luta, luta.» Quando estavam pessoas presentes as senhoras idosas riam-se dele, com um riso que lembrava um cacarejo, o que lhe interessava, e as senhoras jovens tentavam beijá-lo, o que ele consentia com plácido enfado. E quando o longo dia terminava, às cinco horas, subia com Nana para o andar de cima e deixava-se alimentar, à colher, com papas de aveia e comidas moles.
Não havia recordações penosas no seu sono infantil; não lhe acudiam lembranças dos seus arrojados anos na faculdade, dos anos esplendorosos em que fizera palpitar o coração de muitas raparigas.