Noites Brancas - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 40 / 67

— Não, é impossível, não é possível! — respondeu, convencida, mas mantendo a cabeça baixa e sem me fitar.

— Impossível, porquê? — continuei, obstinando-me no meu projecto. — Veja, Nastenka, que espécie de carta? Há cartas e cartas... Ah, é isso mesmo. Confie em mim, bem sabe que não lhe daria um mau conselho. Tudo se pode remediar! A Nastenka deu o primeiro passo, porque não, agora...

— Não, não! Pareceria querer vinculá-lo a um juramento...

— Ah, minha querida Nastenka! — interrompi-a, sem ocultar um sorriso. — Não, nada disso! Tem esse direito, uma vez que ele lho prometeu. Aliás, por tudo aquilo que me confidenciou, vejo que ele é um homem de bons sentimentos e que se comportou com nobreza — continuei, entusiasmando-me progressivamente com a lógica das minhas próprias deduções e exortações. — Sim, como se comportou ele? Disse que não casaria senão consigo, caso decidisse casar-se; à Nastenka, pelo contrário, deixou plena liberdade, até de o recusar agora... Nestas condições, pode dar o primeiro passo, tem o direito de o fazer, pois tem uma vantagem sobre ele, quanto mais não fosse, por exemplo, para o desligar da sua palavra...

— Ouça: como é que lhe escreveria essa carta?

— O quê?

— Sim, a carta de que falou. — É muito simples, escreveria assim: «Senhor...»

— É absolutamente necessário pôr: «Senhor»? — Sem dúvida! Na verdade, deixe-me pensar...





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