Ao mesmo tempo, pelo fato de ter reconhecido Sócrates como um decadente, experimentara de maneira indubitável quão pouco o meu instinto psicológico estava ameaçado por qualquer idiossincrasia moral: a própria moral, considerada como sintoma da decadência, é uma inovação, uma particularidade de primeira ordem na história da consciência. Como passara alto, de um só pulo, em todos os dois casos, acima das conversas fiadas do otimismo contra o pessimismo!” E como ressoa, prenunciador, após a segunda catástrofe mundial, o que Nietzsche continua dizendo na página 108 do livro mencionado: “Eu anuncio o advento de era trágica: a arte mais sublime na afirmação da vida, a tragédia, renascerá quando a humanidade, sem sofrimento, tiver atrás de si a consciência de ter sustentado as guerras mais rudes e mais necessárias.”
Nada mais nos resta acrescentar se não o desejo de que esta tradução contribua para que Frederico Nietzsche, tão caluniado e tão pouco compreendido, receba, entre nós, o lugar de destaque que merece entre os grandes pensadores de todo mundo....
“Subi aos vossos navios! O que necessitamos é de uma nova justiça! E de nova libertação! E de novos filósofos! A terra moral é redonda, também. E a terra moral possui os seus antípodas! E os antípodas também têm direito à existência! Há um mundo novo ainda por descobrir, e até mais de um! Aos vossos navios, todos a bordo, filósofos!” (A ALEGRE CIÊNCIA).
São Paulo, em Janeiro de 1948.
Erwin Theodor.