A Linha de Sombra - Cap. 7: V Pág. 120 / 155

A situação está a ficar tão desesperada que já tem havido momentos em que penso que, como não conseguimos avançar para sul, talvez eu pudesse experimentar virar a proa ao rumo de oeste, tentando apanhar no caminho o paquete da mala. Sempre podíamos arranjar, da parte dele, algum quinino, pelo menos. Que acha da ideia?»

«Não, não e não», exclamou ele. «Não faça uma coisa dessas, comandante. O senhor não pode nem por um instante desistir de fazer frente ao velho bandido. Se fizer uma coisa dessas, ele fica-nos por cima.»

Afastei-me dali. Era impossível. Era como se ele estivesse possesso. Mas, no fundo, os seus protestos não deixavam de ter razão. Realmente, a minha ideia de aproar a oeste, na vaga esperança de alcançar um vapor hipotético, não resistia a um exame desapaixonado. Do lado do golfo onde estávamos, pelo menos tínhamos de tempos a tempos vento bastante para avançar na direcção do sul. Bastante pelo menos para conservarmos viva a nossa esperança. Mas imaginemos que eu deitava mão daquelas rajadas volúveis de vento para aproar a oeste e ir parar a um lado qualquer do mar, desses onde não sopra uma aragem durante dias seguidos, e então? Talvez a minha horrível visão de um navio a boiar pela águas do mar fora, carregando uma tripulação morta, se convertesse em realidade, sendo descoberto, algumas semanas mais tarde, por um grupo qualquer de homens do mar cheios de horror.

Naquele dia à tarde, Ransome trouxe-me uma chávena de chá, observando, enquanto esperava com a bandeja na mão, numa voz perfeita de simpatia:

«O senhor comandante está com muito bom aspecto.» «Sim», disse eu. «Você e eu, parece que ficámos esquecidos.»

«Esquecidos, senhor comandante?»

«Sim, esquecidos pelo demónio desta febre que se meteu a bordo do navio», respondi.





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