A Linha de Sombra - Cap. 2: I Pág. 24 / 155

Declarei-lhe que não queria ouvir nem mais uma palavra sobre o que não passava para mim de chão que deu uvas. Enquanto durara, fora muito bonito tudo, mas agora que tinha acabado, preferia não falar mais no caso, e nem sequer pensar nisso. A minha decisão era regressar à metrópole.

Ele ouviu toda a minha tirada com o ar muito característico de quem concede toda a atenção ao que está a ouvir, tentando descobrir uma nota em falso a todo instante; depois, levantou o busto e pareceu dedicar-se a uma ponderação mais elaborada do assunto.

«Sim. Você diz-me que a sua ideia é ir para a metrópole. Mas tem lá alguma coisa em vista para fazer?»

Em vez de lhe responder que ele nada tinha com isso, disse, com um esgar do rosto:

«Nada, que eu saiba.»

Realmente eu pensara já nesse aspecto em branco da situação em que me pusera ao deixar o meu lugar a bordo, tão satisfatório. E não me sentia lá muito contente. Tinha debaixo da língua a afirmação de que no meu acto não havia senso comum e que, por isso mesmo, o que eu fizera não merecia o interesse das reflexões que o capitão Giles parecia dedicar-lhe. Este último chupava agora o cachimbo curto de cerejeira, e mostrava um ar tão inocente, tão estúpido e tão banal que não parecia valer a pena causar-lhe maiores confusões, revelando-lhe a verdade ou expondo-o a algum novo sarcasmo.

Vi-o soprar uma nuvem de fumo e depois surpreender-me, dizendo bruscamente:

«Mas ainda não comprou o bilhete de viagem para a metrópole!»

Dominado pela pertinácia despudorada daquele homem em relação ao qual era bastante difícil ser-se mal educado, respondi, exagerando o tom de condescendência e cortesia das minhas palavras, que não o fizera ainda. Achava que teria mais que tempo para isso no dia seguinte.





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