A Linha de Sombra - Cap. 2: I Pág. 25 / 155

E preparava-me para me ir embora, esquivando a minha vida íntima àquelas tentativas vãs e sem propósito de lhe descobrirem o estofo, quando o capitão poisou o cachimbo num gesto extremamente eloquente, como se tivesse chegado um momento crítico, encostando-se de lado à mesa que se encontrava entre nós.

«Oh! Ainda não o fez!» Baixou a voz numa atitude misteriosa. «Bom, nesse caso julgo que o senhor deve saber que se está a passar alguma coisa.»

Nunca na minha vida eu me tinha sentido mais longe do que sucedia no mundo. Provisoriamente livre do mar, conservava a minha consciência de marinheiro, ou seja, de completa independência em relação a todas as questões desta terra. Que tinham os outros a ver comigo? Fixei os olhos na fisionomia animada do capitão Giles, sentindo mais desdém que interesse.

A uma pergunta sua, manifestamente preliminar, para saber se o nosso despenseiro falara comigo naquele dia, respondi que não. E que, mais ainda, lhe teria fornecido muito pouco estímulo, se ele tivesse tentado fazê-lo. Não estava de maneira nenhuma interessado em conversar com esse tipo.

Ignorando a minha petulância, o capitão Giles, com uma expressão de grande sagacidade, começou a contar-me uma história cheia de pormenores acerca de uma ordenança da capitania. Era uma história completamente sem sentido. Tinham visto naquela manhã um indígena entrar na varanda com uma carta na mão. A carta vinha dentro de um envelope oficial. Como e costume, o seu portador mostrou-a ao primeiro branco que encontrou pela frente. Esse branco era o nosso amigo de havia pouco, que continuava agora na cadeira de repouso. E, tal como eu sabia muitíssimo bem, ele não se encontrava de momento em estado de se interessar por qualquer questão sublunar.





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