A Linha de Sombra - Cap. 4: II Pág. 47 / 155

«Continuemos calmos», disse para comigo.

Do lado exterior da porta da Casa dos Oficiais, o miserável despenseiro parecia esperar-me. Havia uma escadaria larga e de poucos degraus, e ele caminhava apressado', para trás e para diante, ao cimo das escadas, como se ali o tivessem prendido com uma corrente. Era um cachorro aflito. Tinha o ar de ter a garganta seca demais para conseguir ladrar.

Lamento dizer que me detive antes de entrar. A minha natureza moral sofrera uma revolução. O homem ficou à espera, a boca aberta, sem respirar, enquanto eu me mantive a olhá-lo, durante meio minuto.

«E você foi imaginar que eu era capaz de não querer?», disse-lhe com modos agressivos.

«O senhor tinha dito que ia para a metrópole», vociferou ele em falsete, num tom desgraçado. «O senhor tinha dito isso. Tinha dito isso.»

«Não sei o que é que o comandante Ellis vai pensar dessa sua desculpa», articulei eu com a voz cheia de vaga e de má intenção.

O queixo dele tinha estado a tremer durante todo aquele tempo, e tinha a voz como a de uma cabra doente a balir.

«O senhor então denunciou-me? Estragou-me a vida toda!»

. Mas nem a aflição dele, nem o absurdo daquela história, bastavam para me fazer baixar as armas. Ele era o primeiro exemplo de alguém que tentava fazer-me mal- o primeiro, pelo menos, que eu tivesse podido descobrir. E eu era ainda bastante jovem, estava ainda muito para cá da linha de sombra, e não podia deixar de me admirar e de me indignar com coisas desse género.

Cravei nele os olhos, inflexível. Que sofresse, o miserável! E vi-o a bater com a palma da mão na fronte, enquanto eu seguia para a sala de jantar, perseguido pelos seus guinchos estridentes: «Eu sempre disse que havia de ser o senhor a causa da minha morte».





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