A Linha de Sombra - Cap. 4: II Pág. 48 / 155

Aquela gritaria não só vinha atrás de mim, como acabou por me ultrapassar, se assim posso dizer, chegando à varanda e pondo fora de si o capitão Giles.

Este último ali estava de pé, à minha frente, com toda a solidez do seu conhecimento experimentado das coisas da vida. A corrente de ouro brilhava-lhe no peito. Tinha bem seguro na mão o cachimbo aceso.

Estendi-lhe calorosamente a mão e ele pareceu surpreso, mas por fim correspondeu com toda a cordialidade, e um pálido sorriso de sabedoria superior, cortando cerce os meus protestos de gratidão. Parecia uma faca. Não Julgo que me tenha saído da boca mais que uma palavra. E até essa única palavra, a julgar pela temperatura do meu rosto, se transformou num motivo de fazer corar, como se se tratasse de uma má acção. Afectando um ar negligente, manifestei o meu espanto por não ver como diabo tinha ele logrado desmascarar o jogo sujo que se estava a fazer naquela história.

Complacentemente, o capitão respondeu num murmúrio que embora houvesse algumas, eram poucas as coisas que se passavam na cidade, cuja significação profunda ele não soubesse apurar. Quanto à Casa onde nos encontrávamos agora, estava habituado àquilo havia mais de dez anos. Não havia nada lá dentro que pudesse escapar à sua larga experiência. Não lhe tinha custado o menor esforço. Absolutamente esforço nenhum.

A seguir, com uma tonalidade de voz serena e funda, quis saber se eu apresentara queixa oficial por causa dos actos do despenseiro.

Respondi que não... - embora, na realidade, não me tivesse faltado o ensejo para tanto. O comandante Ellis lançara-se a mim de maneira extraordinariamente ridícula por não ser sido possível encontrarem-me logo que preciso.

«E um velhote engraçado», disse o capitão Giles abrindo um parêntese.





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