A Linha de Sombra - Cap. 6: IV Pág. 97 / 155

Limitava-me a dizer-lhe, ao passar pela porta do camarote, uma palavra rápida e de encorajamento. Creio que, se tivesse forças para tanto, ele me teria chamado por mais de uma vez. Mas faltava-lhe energia. Ransome, apesar disso, fez-me notar, um dia à tarde, que o imediato «parecia estar a restabelecer-se de modo admirável».

«Ele tem-lhe dito ultimamente alguns disparates?», perguntei num tom indiferente.

«Não, senhor comandante.» Ransome ficou surpreendido com a minha pergunta directa; mas, depois de permanecer calado por instantes, acrescentou no mesmo tom: «Hoje de manhã disse-me que lamentava ter deitado ao mar o nosso antigo capitão, mesmo no caminho do navio, como costuma dizer-se, mesmo à saída do golfo».

«Então, e isso não é um disparate considerável, para si?», perguntei, olhando com uma expressão de confiança o seu rosto inteligente e sossegado, no qual a inquietação secreta que lavrava o peito daquele homem lançara um véu de preocupação evidente.

Ransome, isso não sabia. Nunca pensara muito no caso.

E, com a sua atitude activa e prudente do costume, sorrindo frouxamente desapareceu da minha presença, para ir retomar as suas intermináveis ocupações a bordo.

Dois outros dias passaram. Avançáramos algum caminho mais - muito pouco, na realidade - na zona mais aberta do golfo do Sião. Depois de ter agarrado sofregamente e com todo o entusiasmo o meu primeiro lugar de comando de um navio, que o capitão Giles me atirara para os braços, sentia-me ainda presa da impressão inquietante de que uma sorte assim teria talvez que a pagar de alguma maneira incerta. Assumindo um ponto de vista profissional, pus-me a inventariar as diversas possibilidades que se me deparavam. Sentia-me competente o bastante para as enfrentar.





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