Tufão - Cap. 5: V Pág. 89 / 103

O resmungo distante das trevas penetrou-lhe nas orelhas. Ele notou-o com uma impassibilidade derivada daquela súbita confiança em si próprio, como um homem defendido por uma cota de malha olharia para uma lança.

O navio arfava e balançava sem interrupção no meio das colunas negras de água, pagando com as suas pesadas acrobacias o preço da sua vida. As suas entranhas rugiram, sacudindo para o meio da noite um penacho branco' de fumo, e o pensamento de Jukes atravessou como um pássaro a casa das máquinas onde o senhor Rout - homem competente - estava a postos. Quando o rugido cessou pareceu-lhe que se produzira uma pausa de todos os sons, uma pausa completa, em que a voz do capitão MacWhirr vibrou bruscamente.

- Que é aquilo? Uma lufada de vento? - falava muito mais alto do que Jukes jamais o ouvira fazer. - Pela proa. Muito bem. Ainda é possível que ele se safe.

O resmungar do vento aproximava-se rapidamente. À vante era possível distinguir o despertar de um queixume sonolento que seguia o seu caminho e, mais longe, o crescimento de um, clamor múltiplo, avançando e expandindo-se. Havia nele o pulsar de mil tambores, uma nota de impetuosa arremetida, o cântico de uma multidão em marcha.

Jukes já não conseguia ver o seu capitão claramente.

A escuridão estava a empilhar-se literalmente sobre o navio. No máximo conseguia distinguir movimentos, um vislumbre de cotovelos afastados, de uma cabeça erguida.

O capitão MacWhirr estava a tentar meter na casa o último botão de cima do seu impermeável com uma precipitação pouco usual nele. O furacão, com a sua força capaz de enlouquecer os mares, de afundar navios, de arrancar árvores pela raiz, de derrubar grossas paredes e até de atirar violentamente para o chão as aves em pleno voo, tinha encontrado aquele homem taciturno no seu caminho e fazendo o máximo que lhe era possível, conseguira arrancar-lhe algumas palavras.





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