Dirigi-me à Janela e olhei para a rua deserta. Os ocasionais candeeiros iluminavam a extensão da rua lamacenta e o passeio molhado e brilhante. Vi uma única carruagem avançar pela rua inundada, vinda de Oxford Street.
- Bem, Watson, ainda bem que não temos de sair esta noite - disse Holmes, pousando a lupa e enrolando o palimpsesto. - Por hoje já fiz o suficiente. É um trabalho que cansa a vista. Tanto quanto consigo perceber, não é nada de mais entusiasmante que os relatos de um abade que datam da segunda metade do século quinze. Olá! Olá! Olá! Que é isto?
Por entre o uivar do vento, ouvimos o ruído de cascos de cavalo na rua e o ranger de uma roda ao raspar contra o lancil. A carruagem que eu vira parara à nossa porta.
- Que é que ele pode querer? - exclamei ao ver sair um homem.
- Que é que ele quer? Quer-nos a nós. E nós, meu pobre Watson, queremos sobretudos e cachecóis, galochas e tudo o mais que o homem inventou para combater os elementos. Mas espere um pouco. A carruagem voltou a partir. Mas ainda há uma esperança. Se ele quisesse que fôssemos com ele, teria mandado a carruagem esperar. Corra lá abaixo, meu caro, e abra a porta, pois toda a gente séria está já na cama.
Quando a luz do hall de entrada incidiu sobre o nosso visitante não tive qualquer dificuldade em reconhecê-lo. Tratava-se do jovem Stanley Hopkins, um prometedor detective, por cuja carreira Holmes várias vezes já mostrara grande interesse.
- Ele está em casa? - perguntou ansiosamente.
- Suba, meu caro senhor - disse a voz de Holmes lá de cima. - Espero que não tenha qualquer missão para nós numa noite como esta.
O detective subiu as escadas e a luz do nosso candeeiro iluminou o seu impermeável.
