A Utopia - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 103 / 133

Os Utopianos consideram aliados o povos que lhes vêm pedir chefes e tomam corno antigos os que lhes devem benefícios.

Quanto a tratados, que noutras regiões e nações tantas vezes se estabelecem, quebram e renovam, nunca a Utopia fez nenhum, com nenhuma outra nação. Para que servem os tratados? - perguntam-se os Utopianos -, como se a natureza não tivesse ligado o homem ao homem com amor bastante. E, aqueles que assim desprezam a natureza, terão alguns escrúpulos em violar palavras?

Foram sobretudo levados a esta opinião porque, na zona do globo em que habitam, raramente os tratados entre os príncipes são observados. Aqui, na Europa, e especialmente nos países em que reina a fé e a doutrina de Cristo, a majestade dos tratados é, por toda a parte, sagrada e inviolável, em parte pela justiça e bondade dos príncipes e em parte pelo temor e respeito pelos pontífices. Pois estes, tal como se não comprometem a nada que não executem religiosamente, de igual modo exortam os príncipes a cumprir as promessas feitas e usam do seu poder e autoridade canónica para obrigar a isso aqueles que se recusam a cumpri-las Com razão, pensam ser vergonhoso que nos tratados entre os que se orgulham de ser denominados «Fiéis» a fé não tenha lugar.

Mas nesse novo mundo, separado do nosso menos ainda pelo equador que pela vida e costumes diferentes, nenhuma confiança se tem nos tratados. Quanto mais solenes e sagradas as cerimónias com que estes se consagram, mais depressa se rompem, pois é fácil descobrir no escrito um pretexto, por vezes ardilosamente introduzido, de modo a que os laços nunca sejam tão fortes que não haja urna saída para escapar aos compromissos e romper o tratado e o juramento.





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