A Utopia - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 125 / 133

da Lua, tal como o ano pela do Sol, denominam os primeiros dias de «Linemernes» e os últimos de «Trapemernes», o que significa em utopiano «a festa primeira e a festa última». Os templos são magníficos, de rica e curiosa construção, e também amplos e grandes, características a que são obrigados pelo seu número restrito. São capazes de conter grandes multidões. Encontram-se todos, no entanto, numa semiobscuridade, que não provém da ignorância dos arquitectos, mas da indicação dos sacerdotes. Estes pensam que a luz excessiva dispersa a meditação, enquanto a penumbra e a claridade incerta concentra os pensamentos e fixa-os mais recolhidamente na devoção e no sentimento religioso. Os templos não são reservados a um só culto, mas a todas as crenças dos seus cidadãos, que, embora variadas, concorrem para o mesmo fim, a glorificação da Natureza divina, tal como caminhos diversos para um mesmo objectivo. Por tal razão, nada se vê ou ouve nos templos que discorde de algum dos seus cultos.

Se alguma seita tiver mistérios especiais, celebram-nos em casa. Os sacrifícios comuns são ordenados de modo a nada terem de ofensivo ou discordante para qualquer das seitas. Por isso, não se vêem nos templos imagens dos deuses, com o fim de cada homem poder conceber livremente a imagem do seu Deus. Não invocam Deus, sob nenhum nome particular, apenas sob o de Mitra, termo em que todos concordam, tal como na natureza única da majestade divina, qualquer que ela seja. Não utilizam orações, excepto as que qualquer homem pode dizer, sem ir contra os princípios de qualquer das crenças.

Vêm à igreja no último dia de cada mês e ano, jejuando à tarde e dando graças a Deus por terem passado esse mês ou esse ano na prosperidade. No dia seguinte vêm à igreja, de manhã cedo, pedir a Deus felicidade para o ano ou para o mês que nesse





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