A Utopia - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 42 / 133

governar ricos a sê-lo ele próprio. E, na verdade, viver no prazer e na riqueza, enquanto o povo sofre e se lamenta, é mais digno de um carcereiro que de um rei.

«Em conclusão, tal como um médico imbecil que só sabe curar as doenças dos pacientes provocando-lhes outros males, o príncipe que só sabe governar os súbditos tirando-lhes a riqueza e as comodidades da vida tem de confessar a sua incapacidade para governar os homens. Resta-lhe governar a sua própria vida, renunciar aos prazeres desonestos e deitar fora o orgulho, causas principais que lhe acarretaram o desprezo e o ódio do povo. Que viva a •seu contento, sem prejudicar ninguém, sem gastar além das suas posses, dominando os vícios •e a maldade, evitando as ocasiões de erro, com 'uma governação justa, que não consinta que o crime seja incrementado por um castigo injusto e desproporcionado. Que se não acostume a repor em uso leis já caídas no esquecimento, especialmente leis cuja falta nunca se fez sentir. E que, sobretudo, nunca se permita exigir, com o pretexto de uma transgressão, multas e compensações tão elevadas que um juiz as considere excessivas e injustas entre simples particulares.

«Neste ponto dar-lhes-ia o exemplo dos Macários, povo vizinho da Utopia, cujo rei, no dia da coroação, se compromete, com um juramento sagrado, a nunca ter no seu tesouro quantia superior a mil libras de ouro ou o seu equivalente em prata. Contam que esta lei foi feita por um príncipe justo, que se ocupava mais em criar a riqueza e a prosperidade do país do que em enriquecer os seus cofres, com o objectivo dessa lei impedir os reis de enriquecerem, roubando o povo. Pareceu-lhe que esta soma seria suficiente para, no caso de uma guerra civil, o rei se poder proteger ou, no caso de se dar uma invasão estrangeira, defender o país. Considerou





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