também esta soma demasiado pequena e insuficiente para encorajar o rei a apoderar-se dos bens dos seus súbditos. Sem dúvida, foi este o seu principal objectivo ao promulgar a lei. Teve, no entanto, outros factores em consideração: pensou que esta reserva permitiria que ao povo não faltas- se dinheiro para manter as suas transacções diárias e para o seu comércio. E também que o príncipe não teria outra solução senão contribuir com a sua fortuna pessoal sempre que fosse necessário soma superior a esta, e, por isso, evitaria as ocasiões que fossem prejudicar os seus súbditos, pois teria de pagar do seu bolso. Um rei assim é o terror dos maus e o objecto do amor dos homens de bem.
«Ora, dizei-me, se eu fizesse estas e outras afirmações, no meio de homens absolutamente dispostos a princípios opostos, não seria o mesmo que falar para surdos?
- Sem dúvida, surdos como portas - concordei -, e não é de admirar. E, para vos dizer a verdade, concordo que não vale a pena dar tais conselhos, com a certeza de que não serão considerados ou seguidos. Pois como poderiam palavras tão estranhas ser úteis e arrancar-lhes das cabeças os preconceitos e crenças aí firmemente instalados? Esta filosofia é bem recebida numa conversa familiar entre amigos, mas não vem a propósito nos conselhos dos reis, onde se tratam problemas urgentes e se argumenta com grande autoridade.
- Essa era a minha ideia quando vos dizia que a filosofia não tem assento entre os reis.
- De acordo, quanto à filosofia escolástica, que para cada circunstância pensa ter uma solução. Mas existe outra filosofia, menos rígida, que conhece o papel que lhe incumbe na peça a representar e o desempenha com comedimento e ordenação. Esta é a filosofia que deveis aplicar. Ora, se, durante a representação