A Utopia - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 63 / 133

robustos e válidos, que disfarçam a preguiça sob a capa de enfermidades ou aleijões. Descobrireis, em suma, que o número dos que trabalham para prover aos bens necessários à vida do género humano é bem menor do que pensáveis. Considerai, agora, como dos poucos que trabalham menos ainda se ocupam em tarefas necessárias e úteis. Já que o dinheiro é o senhor absoluto, uma imensa quantidade de ocupações frívolas e supérfluas se multiplicam, destinando-se apenas a manter o luxo e os prazeres desonestos.

Se o mesmo número de trabalhadores que hoje executam a produção de tais bens fosse distribuído pelas reduzidas profissões úteis, de modo a produzir com abundância o que o consumo exige, desceriam, sem dúvida alguma, de tal modo os preços que os operários não poderiam viver do seu trabalho. Mas se todos os que se ocupam agora nessas ocupações frívolas e improdutivas, acrescidos dos que nada fazem, além de consumirem e desperdiçarem o que daria para sustentar dois operários laboriosos, se todos estes, repito, se ocupassem em profissões necessárias, compreenderíeis então como seria breve o tempo útil para satisfazer as necessidades e produzir as reservas das coisas essenciais à vida, ao conforto e ao prazer, bem entendido, ao prazer natural e verdadeiro.

Tudo isto é claro e manifesto na Utopia. Ali, em todas as cidades e no total do seu território, há quando muito quinhentos indivíduos, entre homens e mulheres, que, embora sem serem demasiado idosos ou fracos, foram dispensados do trabalho corporal. Entre eles, encontram-se os sifograntes, que, embora isentos pela lei do trabalho, não permitem a si próprios esse privilégio, na intenção de estimular os outros com o seu exemplo.

Essa isenção de trabalho abrange também aqueles a quem o povo, aconselhado pela recomendação dos sacerdotes e por





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