Alma - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 13 / 51

Respondem-me que Deus, dono absoluto da natureza, faz tudo em mim, dirige todos meus atos e pensamentos; que se eu produzisse meus pensamentos, saberia que produzo cada minuto, e não sei; que só sou um autômato com sensações e com ideias, que dependo exclusivamente do ser Supremo, e estou tão submisso a ele como a argila nas mãos do oleiro.

Confesso, pois, minha ignorância, e que quatro mil volumes de metafísica são insuficientes para nos ensinar o que é alma.

«Um filósofo ortodoxo dizia a um heterodoxo:

- Como conseguiste chegar a crer que por sua natureza a alma é mortal e que só é eterna pela vontade de Deus?

– Porque experimentei, contestou o outro filósofo.

– Como experimentaste? Por acaso morreste?

- Sim, algumas vezes. Tinha ataques de epilepsia na juventude e asseguro que caía completamente morto durante algumas horas. Depois não experimentava nenhuma sensação, nem recordava o que me havia sucedido. Agora me sucede o mesmo quase todas as noites. Ignoro o momento que durmo, e durmo sem sonhar. Só por conjeturas posso calcular o tempo que dormi. Estou, pois, morto por seis horas a cada vinte e quatro; a quarta parte de minha vida».

O ortodoxo sustentou que ele pensava mesmo quando dormia, porém sem saber o que. O heterodoxo replicou: «Creio que penso sempre na outra vida. Porém asseguro que raras vezes penso nesta».

O ortodoxo não se equivocava ao afirmar a imortalidade da alma, porque a fé e a razão demonstram esta verdade: Porém podia equivocar-se ao assegurar que o homem dormindo pensa sempre.





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