Entre estas duas loucuras, a primeira que nega o sentimento aos órgãos que o produz, e a segunda que faz alojar um espírito puro no corpo de uma pulga, houve autores que se decidiram por um meio-termo, que chamaram instinto. E o que é o instinto? é uma forma substancial, uma forma plástica, é um “não sei quê”. Serei da sua opinião, quando chameis à maioria das coisas “não sei quê”, quando tua filosofia seja tão debilitada que acabe em “não sei nada”.
O autor do artigo Alma, publicado na Enciclopédia, diz: «Em minha opinião, a alma das bestas é formada de uma substância imaterial e inteligente.» Porém, de que classe? Deve consistir em um princípio ativo capaz de sensações. Se refletirmos sobre a natureza da alma das bestas, não nos aparece nenhum motivo para crer que sua espiritualização as salve do aniquilamento.
É para mim incompreensível poder ter ideia de uma substância imaterial. Representar-se algum objeto, é ter na imaginação uma imagem dele, e até hoje ninguém conseguiu pintar o espírito. Concedo que o autor que acabo de citar entenda conceber pela palavra representar. Porém eu confesso que tampouco a concebo, como não concebo que se possa aniquilar um alma espiritual, como não concebo a criação nem a nada, porque ignoro completamente o princípio de todas as coisas.
Se trato de provar que a alma é um ser real, contestam-me dizendo que é uma faculdade; se afirmo que é uma faculdade como a de pensar, respondem-me que estou equivocado.