Os filósofos, ao ouvir isso, se olhariam com surpresa; e depois, um deles contestaria com suavidade ao homem violento: Por que acreditas que devemos arder em uma fogueira e que o induzo a supor que abriguemos nós o conhecimento de que é mortal vossa alma cruel? – Porque abrigais a crença de que Deus concedeu aos brutos, que estão organizados como nós, a faculdade de ter sentimentos e ideias; e como a alma das bestas morre com seus corpos, acreditas também que o mesmo morre a alma dos homens. Um dos filósofos replicaria:
«Não temos a segurança de que o que chamamos de alma nos animais se pareça quando esses deixam de viver; estamos persuadidos que a matéria não perece, e supomos que Deus haja dotado os animais de algo que pode conservar, se esta é a vontade divina, a faculdade de ter ideias. Não asseguramos que isto suceda, porque não é próprio de homens ser tão confiados; Porém não nos atrevemos a pôr limites ao poder de Deus. Dizemos apenas que é provável que as bestas, que são matéria, tenham recebido um tanto de inteligência. Descobrimos todos os dias propriedades da matéria, que antes de descobri-las não tínhamos ideia de que existiram. Começamos definindo a matéria, dizendo que era uma substância que teria extensão; logo reconhecemos que também teria solidez, e mais tarde tivemos que admitir que a matéria possui uma força que chamamos força de inércia, e ultimamente nos surpreendeu a nós mesmos ter que confessar que a matéria gravita. Ao avançar em nossos estudos, nos vimos obrigados a reconhecer seres que se parecem em algo à matéria, e que, contudo, carecem dos atributos de que a matéria está dotada.