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Capítulo 3: Trova Terceira

Página 19

Depois, a dama pôs-se a cantar uma cantiga de bruxas, acompanhando-se de um saltério, de que tirava mui estranhas toadas:


Pelo cabo da vassoura,
Pela corda da polé,
Pela víbora que vê,
Pela Sura e pela Toura,


Pela vara do condão,
Pelo pano da peneira,
Pela velha feiticeira,
Do finado pela mão;


Pelo bode, rei da festa
Pelo sapo inteiriçado,
Pelo infante dessangrado
Que a bruxa chupou à sesta;


Pelo crânio alvo e lustroso
Em que sangue se libou,
E do irmão que irmão matou,
Pelo arranco doloroso;


Pelo nome de mistério
Que em palavras não se diz,
Vinde já precitos vis;
Vinde ouvir o meu saltério!


E dançai-me, aqui na terra,
Uma dança doidejante,
Que entonteça num instante
O meu filho Inigo Guerra.


Que ele durma um ano inteiro,
Como em sono de uma hora,
Junto à fonte que ali chora,
Sobre a relva deste outeiro.

Enquanto a dama cantava essas cantigas, o mancebo sentia um quebrantamento nos membros que crescia cada vez mais e que o obrigou a assentar-se.

E logo, logo, ouviu-se um ruído abafado, como de trovões e de ventanias engolfando-se em covoadas; depois o céu começou de toldar-se, e cada vez era mais cris, até que, enfim, apenas uma luz de crepúsculo o alumiava.

E a mansa almácega refervia, e os penedos rachavam, e as árvores torciam-se, e os ares sibilavam.

E das bolhas da água da fonte, e das fendas dos rochedos, e dentre as ramas dos robles, e da vastidão do ar via-se descer, subir, romper, saltar.

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Capa do livro A Dama Pé-de-Cabra
Páginas: 27
Página atual: 19

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Trova Primeira 1
Trova Segunda 6
Trova Terceira 16