Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: Capítulo 9

Página 100
instante. Não se falava noutra coisa; tanto que, quando, já à noite, Augusta e Alexandre receberam uma visita da comadre, a Léonie, era ainda esse o principal assunto das conversas.

Léonie, com as suas roupas exageradas e barulhentas de cocote à francesa, levantava rumor quando lá ia e punha expressões de assombro em todas as caras. O seu vestido de seda cor de aço, enfeitado de encarnado sangue de boi, curto, petulante, mostrando uns sapatinhos à moda com um salto de quatro dedos de altura; as suas lavas de vinte botões que lhe chegavam até aos sovacos; a sua sombrinha vermelha, sumida numa nuvem de rendas cor-de-rosa e com grande cabo cheio de arabescos extravagantes; o seu pantafaçudo chapéu de imensas abas forradas de velado escarlate, com um pássaro inteiro grudado à copa; as suas jóias caprichosas, cintilantes de pedras finas; os seus lábios pintados de carmim; suas pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente louro; tudo isto contrastava tanto com as vestimentas, os costumes e as maneiras daquela pobre gente, que de todos os lados surgiam olhos curiosos a espreitá-la pela porta da casinha de Alexandre; Augusta, ao ver a sua pequena, a Juju, como vinha tão embonecada e catita, ficou com os dela arrasados de água.

Léonie trazia sempre muito bem calçada e vestida a afilhada, levando o capricho ao ponto de lhe mandar talhar a roupa da mesma fazenda com que fazia as suas e pela mesma costureira; arranjava-lhe chapéus escandalosos como os dela e dava-lhe jóias. Mas, naquele dia, a grande novidade que Juju apresentava era estar de cabelos louros, quando os tinha castanhos por natureza. Foi caso para uma revolução na estalagem; a noticia correu logo de número a número, e muitos moradores se abalaram do cômodo para ver a filhita da Augusta “com cabelos de francesa”.

Tal sucesso pôs Léonie radiante de alegria. Aquela afilhada era o seu luxo, a sua originalidade, a coisa boa da sua vida de cansaços depravados; era o que aos seus próprios olhos a resgatava das abjeções do oficio. Prostituta de casa aberta, prezava todavia com

<< Página Anterior

pág. 100 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Cortiço
Páginas: 239
Página atual: 100

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 16
Capítulo 3 27
Capítulo 4 39
Capítulo 5 47
Capítulo 6 53
Capítulo 7 61
Capítulo 8 76
Capítulo 9 89
Capítulo 11 126
Capítulo 12 138
Capítulo 13 147
Capítulo 14 156
Capítulo 15 165
Capítulo 16 175
Capítulo 17 186
Capítulo 18 190
Capítulo 19 196
Capítulo 20 208
Capítulo 21 216
Capítulo 22 227
Capítulo 23 234