E, como a outra mostrasse na cara não ter compreendido, explicou que a filha de Dona Isabel ia todas as terças, quintas e sábados, mediante dois mil-réis por noite, servir de dama numa sociedade em que os caixeiros do comércio aprendiam a dançar.
— Foi lá que ela conheceu o Costa... acrescentou.
— Que Costa?
— O noivo! Então a Pombinha já não foi pedida?
— Ah! sei...
E a cocote perguntou depois, abafando a voz:
— E aquilo?... Já veio afinal?...
— Qual! Não é por falta de boa vontade da parte delas, coitadas! Agora mesmo a velha fez uma nova promessa a Nossa Senhora da Anunciação... mas não há meio!
Daí a pouco, Augusta apresentou-lhe uma xícara de café, que Léonie recusou por não poder beber. “Estava em uso de remédios...” Não disse, porém, quais eram estes, nem para que moléstia os tomava.
— Prefiro um copo de cerveja, declarou ela.
E, sem dar tempo a que se opusessem, tirou da carteira uma nota de dez mil-réis, que deu a Agostinho para ir buscar três garrafas de Carls Berg.
A vista dos copos, liberalmente cheios, formou-se um silêncio enternecido. A cocote distribuiu-os por sua própria mão aos circunstantes, reservando um para si. Não chegavam. Quis mandar buscar mais; não lho permitiram, objetando que duas e três pessoas podiam beber juntas.
— Para que gastar tanto?... Que alma grande!
O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda, entre uma infinita quinquilharia de coisas velhas e bem tratadas.
— Quando você, comadre, agora me aparece por lá?... quis saber Léonie
— Pra semana, sem falta; levo-lhe toda a roupa. Agora, se a comadre tem precisão de alguma... pode-se aprontar com mais pressa...
— Então é bom mandar-me toalhas e lençóis... Camisas de dormir, é verdade! também tenho poucas.
— Depois d’amanhã está tudo lá.
E a noite ia-se passando. Deram dez horas. Léonie, impaciente já pelo rapaz que ficara de ir buscá-la, mandou ver se ele por acaso estaria no portão, à espera.
— É aquele mesmo que veio da outra vez com a comadre?...
— Não. É um mais alto. De cartola