gente, e intimou a todos que se recolhessem. Aquilo já não eram horas para semelhante algazarra!
— Vamos! Vamos! Cada um para a sua casa!
Piedade foi a única que protestou, reclamando o seu direito de brincar um pouco com os amigos.
Que diabo! não estava fazendo mal a ninguém!
— Ora vá mas é pra cama cozer a mona! vituperou-lhe João Romão, repelindo-a. Você, com uma filha quase mulher, não tem vergonha de estar aqui a servir de palhaço?! Forte bêbada!
Piedade assomou-se com a descompostura, quis despicar-se, chegou a arregaçar as mangas e sungar a saia; mas o Pataca meteu-se no meio e conteve-a, pedindo a João Romão que não levasse aquilo em conta, porque era tudo cachaça.
— Bom, bom, bom! mas aviem-se! Aviem-se!
E não se retirou sem ver a roda dissolvida, e cada qual procurando a casa.
Recolheram-se todos em silêncio; só o Pataca e Piedade deixaram-se ficar ainda no pátio, a discutir o ato do vendeiro. O Pataca também estava bastante tocado. Ambos reconheciam que lhes não convinha demorar-se ali, porém nenhum dos dois se sentia disposto a meter-se no quarto.
— Você tem lá alguma coisa que beber em casa?... perguntou ele afinal.
Ela não sabia ao certo; foi ver. Havia meia garrafa de parati e um resto de vinho. Mas era preciso não fazer barulho, por’mor da pequena que estava dormindo.
Entraram em ponta de pés, a falar surdamente. Piedade deu mais luz ao candeeiro.
— Olha agora! Vamos ficar às escuras! Acabou-se o gás!
O Pataca saiu, para ir a casa buscar uma vela, e de volta trouxe também um pedaço de queijo e dois peixes fritos, que levou ao nariz da lavadeira, sem dizer nada. Piedade, aos bordos, desocupou a mesa do engomado e serviu dois pratos. O outro reclamou vinagre e pimenta e perguntou se havia pão.
— Pão há. O vinho é que é pouco!
— Não faz mal! Vai mesmo com a caninha!
E assentaram-se. O cortiço dormia já e só se ouviam, no silêncio da noite, cães que ladravam lá fora na rua, tristemente. Piedade começou a queixar-se da vida; veio-lhe uma crise de lágrimas e soluços. Quando pôde