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— É que há um pontinho que é preciso pôr a limpo... Coisa insignificante, mas...
— Mas, mas! você não desembuchará por uma vez?... Fale, que diabo!
Um caixeiro do armazém apareceu à porta, prevenindo de que o almoço estava na mesa.
— Vamos comer, disse João Romão. Você já almoçou?
— Ainda não, mas lá em casa contam comigo...
O vendeiro mandou o seu empregado dizer lá defronte à família do Barão que seu Botelho não ia ao almoço. E, sem tomar o casaco, passou com a visita à sala de jantar.
O cheiro ativo dos móveis, polidos ainda de fresco, dava ao aposento um caráter insociável de lagar desabitado e por alagar. Os trastes, tão nus como as paredes, entristeciam com a sua fria nitidez de coisa nova.
— Mas vamos lá! Que temos então?... inquiriu o dono da casa, assentando-se à cabeceira da mesa, enquanto o outro, junto dele, tomava lugar à extremidade de um dos lados.
— É que, respondeu o velho em tom de mistério, você tem cá em sua companhia uma... uma crioula, que... Eu não creio, note-se, mas...
— Adiante!
— É! Dizem que ela é coisa sua... Lá em casa rosnou!... O Miranda defende-o, afirma que não... Ah! aquilo é uma grande alma! mas Dona Estela, você sabe o que são as mulheres!... torce o nariz e... Em uma palavra: receio que esta história nos traga qualquer embaraço!...
Calou-se, porque acabava de entrar um portuguesinho, trazendo uma travessa de carne ensopada com batatas.
João Romão não respondeu, mesmo depois que o pequeno saiu; ficou abstrato, a bater com a faca entre os dentes.
— Por que você a não manda embora?... arriscou o Botelho, despejando vinho no seu e no copo do companheiro.
Ainda desta vez não obteve logo resposta; mas o outro tomando, afinal, uma resolução, declarou confidencialmente:
— Vou dizer-lhe toda coisa como ela é... e talvez que você até me possa auxiliar!...
Olhou para os lados, chegou mais a sua cadeira para junto da de Botelho e acrescentou em voz baixa:
— Esta mulher meteu-se comigo, quando eu principiava minha vida... Então, confesso... precisava