— Transtorno já é estar eu parado; e o pior será pararem os dois!
— Eu queria ficar a teu lado, Jeromo!
— E eu acho que isso é tolice! Vai! anda!
Ela ia retirar-se, como um animal enxotado, quando deu com a Rita, que entrava muito ligeira e sacudida, trazendo na mão a fumegante palangana de café com parati e no ombro um cobertor grosso para dar um suadouro ao doente.
— Ah! fez Piedade, sem encontrar uma palavra para a mulata.
E deixou-se ficar.
Rita, despreocupadamente, alegre e benfazeja como sempre, pousou a vasilha sobre a cômoda do oratório e abriu o cobertor.
— Isso é que o vai pôr fino! disse. Vocês também, seus portugueses, por qualquer coisinha ficam logo pra morrer, com uma cara da última hora! E ai, ai, Jesus, meu Deus! Ora esperte-se! Não me seja maricas!
Ele riu-se assentando-se na cama.
— Pois não é assim mesmo? perguntou ela a Piedade, apontando para o carão barbado de Jerônimo. Olhe só pr’aquela cara e diga-me se não está a pedir que o enterrem!
A portuguesa não dizia nada, sorria contrafeita, no intimo, ressentida contra aquela invasão de uma estranha nos cuidados pelo seu homem. Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda a fêmea pelas outras, quando sente o seu ninho exposto.
— Está-me a parecer que agora te achas melhor, hein?... desembuchou afinal, procurando o olhar do marido, sem conseguir disfarçar de todo o seu descontentamento.
— Só com o cheiro! reforçou a mulata, apresentando o café ao doente. Beba, ande! beba tudo e abafe-se! Quero, quando voltar logo, encontrá-lo pronto, ouviu? — E acrescentou, falando à Piedade, em tom mais baixo e pousando-lhe a mão no ombro carnudo: — Ele daqui a nada deve estar ensopado de suor; mude-lhe toda a roupa e dê-lhe dois dedos de parati, logo que peça água. Cuidado com o vento!
E saiu expedida, agitando as saias, de onde se evolavam eflúvios de manjerona.
Piedade chegou-se então para o cavouqueiro, que já tinha sobre as pernas o cobertor oferecido pela Rita, e, ajudando-o a