E o sangue todo lhe refluía ao coração, que lhe tremia como o da pomba que sente estendida sobre o colo a garra desapiedada do gavião.
Em tal estado de susto e perturbação, Isaura não atinava com o que devia responder àquela tão sincera e apaixonada declaração do mancebo. Guardou silêncio por alguns instantes, o que Álvaro interpretou por timidez ou emoção.
- Não me quer responder? - continuou com voz meiga, - uma só palavra é bastante...
- Ah! senhor, - murmurou ela suspirando, - o que posso eu responder às doces palavras que acabo de ouvir de sua boca? Elas me encantam, mas...
Elvira interrompeu-se bruscamente; um súbito estremecimento agitando o braço de Álvaro o fez olhar para ela com sobressalto e inquietação.
- É ele!... - este som sussurrou-lhe pelos lábios como um gemido rouco e convulsivo; acabava de avistar Martinho, entrando na sala em que se achavam, e sentiu mortal calafrio percorrer-lhe todo o corpo.
- Desculpe-me, senhor - continuou ela - não é possível por hoje ouvir suas doces palavras; sinto-me mal; preciso retirar-me. Se o senhor tivesse a bondade de levar-me onde está meu pai...
- Por que não, D. Elvira?... mas oh!... como está pálida!... está sofrendo muito, não é assim?... quer que eu a acompanhe?... que lhe chame um médico?... aqui mesmo os há...
- Obrigada, senhor Álvaro; não se inquiete; isto é um mal passageiro, cansaço talvez; em chegando a casa ficarei boa.
- E quer então retirar-se sem me deixar uma só palavra de consolação e de esperança?...
- De consolação talvez, mas de esperança...
- Por que não?
- Se nem eu mesma posso tê-la...
- Então não me ama...
- Amo-o muito.
- Então será minha...
- Isso é impossível...
- Impossível!... que obstáculo pode haver?...
- Não sei dizer-lhe, senhor; minha desgraça.