- Faça-se de esquerdo!... pensa que não sei tudo?... enfim. adeus, senhor Leôncio: eu me retiro, porque seria altamente inconveniente, indigno e ridículo da minha parte estar a disputar com o senhor por amor de uma escrava.
- Espera, Henrique... escuta...
- Não, não; não tenho negócio nenhum com o senhor. Adeus! - disse e retirou-se precipitadamente.
Leôncio sentiu-se esmagado, e arrependeu-se mil e uma vezes de ter provocado tão imprudentemente aquele leviano e estouvado rapaz. Ignorava que seu cunhado estivesse ao corrente da paixão que sentia por Isaura, e dos esforços que empregava para vencer-lhe a isenção e lograr seus favores. É verdade que lhe havia falado sem muito rebuço a esse respeito; mas algumas palavras ditas entre rapazes, em tom de mera chocarrice, não constituíam base suficiente para que sobre ela Henrique pudesse articular uma acusação contra ele em face de sua mulher. Decerto a rapariga lhe havia revelado alguma coisa e isto o fazia espumar de despeito e raiva contra um e outra. Bem pouco lhe importava a perturbação da paz doméstica, o que o enfurecia era o perigo em que se colocara de ver desconcertados os seus perversos desígnios sobre a gentil escrava.
- Maldição! - rugia ele lá consigo. - Aquele maluco é bem capaz de desconcertar todos os meus planos. Se sabe alguma coisa, como parece, não porá dúvida em levar tudo aos ouvidos de Malvina... Leôncio ficou por alguns momentos em pé, imóvel, sombrio, carrancudo, com o espírito entregue à cruel inquietação que o fustigava.