Sabes tudo isto, e ainda vens com dúvidas e demoras!... Oh! isto é muito!... não vejo motivo nenhum para demorar o cumprimento de um dever de que há muito tempo já devias ter-te desempenhado. - Mas para que semelhante pressa?... não me dirás Malvina? - replicou Leôncio com a maior brandura e tranquilidade. - De que proveito pode ser agora a liberdade para Isaura? porventura não está ela aqui bem? é maltratada?... sofre alguma privação?... não continua a ser considerada antes como uma filha da família, do que como uma escrava? queres que desde já a soltemos à toa por esse mundo?... assim decerto não cumpriremos o desejo de minha mãe, que tão solicita se mostrava pela sorte futura de Isaura. Não, minha Malvina; não devemos por ora entregar Isaura a si mesma. É preciso primeiro assegurar-lhe uma posição decente, honesta e digna de sua beleza e educação, procurando-lhe um bom marido, e isso não se arranja assim de um dia para outro.
- Que miserável desculpa, meu amigo!... Isaura por ora não precisa de marido para protegê-la; tem o pai, que é homem muito de bem, e acaba de dar provas de quanto adora sua filha. Entreguemo-la ao senhor Miguel, que ficará em muito boas mãos, e debaixo de muito boa sombra. - Pobre do senhor Miguel! - replicou Leôncio com sorriso desdenhoso. - Terá bons desejos, não duvido; mas onde estão os meios, de que dispõe, para fazer a felicidade de Isaura, principalmente agora em que decerto empenhou os cabelos da cabeça para arranjar a alforria da filha, se é que isso não proveio de esmolas, que lhe fizeram, como me parece mais certo. Por única resposta Malvina abanou tristemente a cabeça e suspirou. Todavia quis ainda acreditar na sinceridade das palavras de seu marido, fingiu-se satisfeita e retirou-se sem dar mostras de agastamento.