Não podia, porém, prolongar por mais tempo aquela situação para ela tão humilhante, tão cheia de ansiedade e desgosto, e no outro dia insistiu ainda com mais força sobre o mesmo objeto. Teve em resposta as mesmas evasivas e moratórias. Leôncio afetava mesmo tratar desse negócio com certa indiferença desdenhosa, como quem estava definitivamente resolvido a fazer o que quisesse. Malvina desta vez não pôde conter-se, e rompeu com seu marido. Este, como já friamente havia deliberado, aparou os raios da cólera feminina no escudo de uma imprudência cínica e galhofeira, o que levou ao último grau de exacerbação a cólera e o despeito de Malvina.
No outro dia Malvina, sem dar satisfação alguma a quem quer que fosse, deixava precipitadamente a casa de Leôncio, e partia em companhia de seu irmão Henrique a caminho do Rio de Janeiro, jurando no auge da indignação nunca mais pôr os pés naquela casa, onde era tão vilmente ultrajada, e varrer para sempre da lembrança a imagem de seu desleal e devasso marido. No assomo do despeito não calculava se teria forças bastantes para levar a efeito aqueles frenéticos juramentos, inspirados pela febre do ciúme e da indignação; ignorava que nas almas tenras e bondosas como a sua o ódio se desvanece muito mais depressa do que o amor; e o amor, que Malvina consagrava a Leôncio, a despeito de seus desmandos e devassidões, era muito mais forte do que o seu ressentimento, por mais justo que este fosse.
Leôncio por seu lado, levando por diante o seu plano de opor aos assomos da esposa a mais inerte e cínica indiferença, viu de braços cruzados e sem fazer a mínima observação, os preparativos daquela rápida viagem, e recostado ao alpendre, fumando indolentemente o seu charuto, assistiu à partida de sua mulher, como se fora o mais indiferente dos hóspedes.