A meiga voz dos zéfiros, do rio
Não te convida o sono:
Só de já fatigada
Na luta de amargosos pensamentos,
Cerras, mísera, os olhos;
Mão não há para ti, para os Amantes
Sono plácido, e mudo;
Não dorme a fantasia, Amor não dorme:
Ou gratas ilusões, ou negros sonhos
Assomando na ideia, espertam, rompem
O silêncio da Morte.
Ah! Que fausta Visão de Inês se apossa!
Que cena, que espectáculo assombroso
A paixão lhe afigura aos olhos d'alma!
Em marmóreo salão de altas colunas
A Sólio majestoso, e rutilante
Junto ao régio Amador se crê subida;
Graças de neve a púrpura lhe envolve,
Pende augusto docel do tecto de oiro;
Rico Diadema de radioso esmalte
Lhe cobre as tranças, mais formosas que ele;
Nos luzentes degraus do Trono excelso
Pomposos Cortesãos o orgulho acurvam;
A Lisonja sagaz lhe adoça os lábios,
O Monstro da Política se aterra,
E se Inês perseguia, Inês adora.
Ela escuta os extremos,
Os vivas populares, vê o Amante
Nos olhos estudar-lhe as leis que dita;
O prazer a transporta, Amor a encanta;
Prémios, dádivas mil ao Justo, ao Sábio
Magnânima confere,
Rainha esquece o que sofreu Vassala:
De sublimes acções orna a Grandeza,
Felicita os mortais, do ceptro é digna,
Impera em corações... mas Céus! Qu'estrondo
O sonho encantador lhe desvanece!
Inês sobressaltada
Desperta, e de repente aos olhos turvos
Da vistosa ilusão lhe foge o quadro.
Ministros do Furor, três vis Algozes,
De buídos punhais a dextra armada,
Contra a bela Infeliz bramindo avançam.
Ella grita, ella treme, ela descora,
Os Frutos da ternura ao seio aperta,
Invocando a piedade, os Céus, o Amante;
Mas de mármore aos ais, de bronze ao pranto,
Á suave atracção da formosura,
Vós, bruto Assassinos,
No peito lhe enterrais os ímpios ferros.