Cai nas sombras da Morte
A Vítima de Amor, lavada em sangue,
As rosas, os jasmins da face amena
Para sempre desbotam.
Dos olhos se lhe some o doce lume,
E no fatal momento
Balbucia, arquejando: “Esposo, Esposo.”
Os tristes Inocentes
Á triste Mãe se abraçam,
E soltam de agonia inútil choro.
Ao suspiro exalado,
Final suspiro da formosa extinta,
Os Amores acodem.
Mostra a Prole de Inês, e a tua, ó Vénus,
Igual consternação, e igual beleza:
Uns dos outros os cândidos Meninos
Só nas azas diferem,
(Que jazem pelo campo em mil pedaços
Carcazes de marfim, virotes de oiro)
Súbito voam dois do Coro alado:
Este, raivoso, a demandar vingança
No Tribunal de Jove,
Aquele a conduzir o infausto anúncio
Ao descuidado Amante.
Nas cem tubas da Fama o grão desastre
Irá pelo Universo:
Hão de chorar-te, Inês, na Hircania os Tigres,
No torrado Certão da Líbia fera
As Sérpes, os Leões hão de chorar-te.
Do Mondego, que atónito recua,
Do sentido Mondego as alvas Filhas
Em tropel doloroso
Das urnas de cristal eis vem surgindo,
Eis, atentas no horror do caso infando,
Terríveis maldições dos lábios vibram
Aos Monstros infernais, que vão fugindo.
Já coroam de cipreste a Malfadada,
E, arrepejando as nítidas madeixas,
Lhe urdem saudosas, lúgubres endeixas.
Tu, Eco, as decoraste,
E, cortadas dos ais, assim ressoam
Nos côncavos penedos, que magoam:
Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.
Mísero Esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto
Já não é teu.
Sua alma pura
Nos céus se encerra:
Triste da Terra
Porque a perdeu!
Contra a cruenta
Raiva ferina
Face divina
Não lhe valeu.
Tem roto o seio,
Tesouro oculto,
Bárbaro insulto
Se lhe atreveu.