– Antes por lá que pelas criadas da casa – disse o assisado fidalgo. – É rapaz, e precisa de se divertir.
No último quartel da vida, os pais... e até as mães – santo Deus! – dizem aquilo. Precisam divertir-se os filhos: levem a desonra onde quer que seja; mas não corrompam a disciplina doméstica, não embarrem pelas criadas, não perturbem o serviço da casa. Com que zelo estas matronas veneram a moral da cozinha, da salgadeira e da despensa!
Nas férias de Páscoa, António de Queirós viu chorar Josefa. Não eram lágrimas de amante magoada, nem de filha malquista de seus pais: eram lágrimas de mãe. Entrara-se de uma terrível vergonha e confusão. Ninguém a suspeitava; e ela, se alguém a encarava a fito, estremecia. A mãe era cruel com as mulheres manchadas. No seu serviço não entrava jornaleira de má nota. Não se ajoelhava na igreja à beira de criatura de ruim vida. Dava-lhe este direito haver sido filha humilde e esposa honrada do homem com quem a casaram, o João da Laje, que era vesgo, cambado, lãzudo e bêbedo.
O pai viu de longe, uma tarde, Josefa a conversar em uma barroca com o fidalguinho, e disse-lhe:
– Se tua mãe o sabe dá-te cabo do canastro, rapariga. N
ão lhe bateu, porque estava sempre às avessas da mulher. Se ele imaginasse que a mãe fechava os olhos às toleimas da moça, então com certeza lhe dava.