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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 23

A rapariga tremia pois da mãe, e queria fugir; mas o cadete, cheio de bons propósitos, jurou-lhe que viria casar com ela, antes de cinco meses. Dizia o cirurgião que o velho tinha uma anasarca, e não viveria mais de três. O estudante contava com isto, e dizia-o com uma sossegada fleuma como se se tratasse da esperançosa morte de um parente desconhecido para onde houvesse de lhe vagar a administração de um vínculo. Pobres pais! A verdade é que o fidalgo tinha as pernas inchadas, e prometia não incomodar muito tempo a sua família.

Passados os cinco meses aprazados, Cristóvão de Queirós desinchou, ao contrário da Josefa da Laje. Parecia castigo um pouco zombeteiro! O estudante, quando recebeu esta nova com os parabéns do cirurgião, foi à terra; e, como disse já o minorista, expôs ao vigário o estado melindroso da rapariga e pediu-lhe que os recebesse. Já sabem que o vigário denunciou ao velho o propósito do jovem doido que pensava em envergonhar seu pai, não só descendente de Bernardo del Cárpio, ilustríssimo galego, sobrinho de el-rei D. Afonso, o Casto, mas também representante de Fernão de Queirós, castelhano que entrou em Portugal a servir el-rei D. Fernando contra o de Castela – um renegado da pátria. O fidalgo, quando tal ouviu, mandou selar as mulas dos lacaios e pôr aos varais da liteira a parelha dos nédios machos. O filho recebeu ordem de acompanhar seu pai à corte, onde não havia corte nesse tempo. A surpresa abafou a reacção do moço; mas o velho, em todo prumo da sua soberba, se o filho reagisse, iria à sua panóplia – que era um feixe de montantes e partasanas ferrugentas encostadas a um canto da tulha – e seria capaz de lhe meter um ferro de lança no degenerado peito! Assim fizeram sempre Queiroses, os bons, entenda-se; porque há em Portugal outros Queiroses, que não vêm de Bernardo del Cárpio – o qual matou o rei dos Longobardos em Itália –, e estes fazem o que lhes parece, porque não são dos bons, nem têm diplomas de assassinos desde o século X.

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Capa do livro Maria Moisés
Páginas: 86
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