No começo do Inverno, Maria Moisés saiu de Santa Eulália, e pediu aos seus caseiros que deixassem ir com ela a sua filha.
– Para onde vai a senhora então? – perguntou o Bragadas.
– Vou passar o Inverno em Braga, onde tenho as minhas amigas do convento. Aqui lhe deixo os meus órfãos, que já podem ir à escola. Trate-os como costuma tratar os filhos que não têm mãe, sim?
– Vá descansada, mas ó senhora, isto de escola pra que monta? Eu também não sei ler, nem nunca me fez minga. Lá se eles tivessem que comer, vá; sabendo ler, não era mal; mas o que eles carecem é de se pegar ao trabalho, guardarem uns cevados enquanto não podem ir para o monte com a rês, e depois é agarrarem-se à enxada e à rabiça do arado.
– Não quero, Sr. Francisco. Quero que aprendam, e depois veremos. Talvez os mande para o Brasil.
– Ah! A senhora está a ler! Qué-los fazer brasileiros? Boa vai ela! Se vai nesse modo de vida, queira perdoar-me, mas a minha ama dá conta do que tem. Olhe que os milhos este ano quase que não espigaram, e as oliveiras estão tolhidas da ferrugem. Vinho, então, não se enche a cuba pequena.
– Paciência. Para nós e para os pequenos sempre há-de chegar.