Surgiu-me então uma grande dificuldade. O pouco que possuía no mundo era dinheiro, com excepção de alguma prata, algumas roupas de casa e de uso pessoal e poucos ou nenhuns objectos de uso doméstico, pois vivera sempre em aposentos mobilados, mas não tinha uma única amiga a quem confiar esse pouco ou que me aconselhasse o que devia fazer, e isso dava-me que pensar dia e noite. Lembrei-me do banco e de outras empresas londrinas, mas mais uma vez me faltava uma pessoa amiga para dar os passos necessários e não me parecia seguro trazer comigo contas de banco, talões, etc. Se os perdesse, pensava, perderia o meu dinheiro e estaria desgraçada. No lugar estranho para onde ia podiam até assaltar-me e talvez assassinar-me para se apoderarem desses documentos. Tudo isto me apoquentava, como já disse, mas não sabia que fazer.
Lembrei-me, certa manhã, de ir pessoalmente ao banco, onde estivera muitas vezes para receber os juros de alguns títulos que possuía e onde conhecera um empregado muito honesto e justo, o qual, uma vez em que contara mal o meu dinheiro em meu prejuízo, me chamara e me dera o que me pertencia, quando podia muito bem tê-lo guardado.
Fui ter com ele, expus-lhe francamente o meu caso e perguntei-lhe se não se importava de me aconselhar, pois era uma pobre viúva sem amigos e não sabia que fazer. Respondeu-me que, se desejasse o seu parecer acerca de não importava que assunto que estivesse ao seu alcance, tudo faria para que não fosse prejudicada, mas que me recomendaria também a um homem sério e honesto do seu conhecimento, igualmente empregado bancário, embora noutra casa, pessoa muito entendida e em cuja honestidade podia confiar inteiramente.