A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 145 / 359

Disse-me em seguida que tinha uma proposta a fazer-me, mas que devia prometer-lhe que não a levaria a mal, mesmo que não a aceitasse. Respondi-lhe esperar que não me fizesse nenhuma proposta desonrosa, sobretudo na sua própria casa, e que, a ser assim, desejava que desistisse de tal ideia, para não ser obrigada a sentir por ele qualquer ressentimento, o que não se coadunaria com o respeito que me merecia e a confiança que lhe testemunhara ao ir a sua casa. Roguei-lhe me desse licença para sair e, como a sublinhar a minha resolução, comecei a calçar as luvas, embora, na realidade, tencionasse tanto partir como ele consentir-mo.

Suplicou-me que não falasse em partir e garantiu-me que não tinha qualquer pensamento desonroso a meu respeito e estava longe de me pro- por alguma indignidade. Se eu pensava o contrário, nada mais tinha a dizer-me.

Claro que não me agradou nada a ameaça e, por isso, apressei-me a declarar que estava disposta a ouvir o que tivesse a dizer, desde que não fosse indigno dele nem impróprio dos meus ouvidos. Informou-me então de que a sua proposta era o seguinte: desposá-lo-ia apesar de não ter ainda obtido o divórcio da desavergonhada da mulher, mas, para me provar que as suas intenções eram honestas, prometia não viver nem dormir co- migo enquanto não estivesse divorciado. O meu coração mandou-me dizer «sim» logo à primeira palavra, mas a sensatez aconselhou-me a fazer de hipócrita mais algum tempo. Fingi, por isso, declinar a sugestão com certo calor e achá-la, até, um pouco desleal, declarando-lhe que tal proposta só serviria para nos causar a ambos grandes dificuldades, pois se, ao fim e ao cabo, não lograsse obter o divórcio, não poderíamos dissolver o matrimónio nem tão-pouco consumá-lo. Ele que reflectisse, portanto, na singular situação em que ambos ficaríamos.





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