Acrescentou ainda, dirigindo-se-me, que ela não era sua irmã, mas que fora, sim, sua amante durante dois anos e lhe extorquira cem libras de avanço, por conta da comissão, e afirmou que estaria irremediavelmente perdido se as coisas fossem como eu dizia. Na sua fúria, jurou que lhe traspassaria imediatamente o coração, o que a assustou a ela e a mim também. A mulher chorou e jurou que quanto lhe contara lho tinham dito na casa onde eu morava, o que serviu apenas para o enfurecer-ainda mais por ela ter consentido que fosse tão longe baseada apenas no que ouvira dizer. Depois virou-se outra vez para mim e disse, muito sério, recear que estivéssemos ambos perdidos:
-... pois, para ser franco, minha querida, não tenho propriedades nenhumas - declarou. - O pouco que tinha, gastei-o para te receber condignamente e para manter a minha equipagem, tudo por causa desta malvada.
A mulher aproveitou o ensejo de o ver a falar seriamente comigo para se esgueirar do quarto, e nunca mais a vi.
Encontrava-me agora tão perplexa como ele e não sabia que dizer. Considerava-me, por muitos motivos, a mais prejudicada, e a sua afirmação de que estava perdido e não tinha propriedades nenhumas quase me enlouquecia.
-Tudo isto foi então uma diabólica impostura - murmurei -, pois o nosso casamento assenta numa fraude dupla. Tu, segundo parece, estás arruinado pela decepção que sofreste e eu, se possuísse uma fortuna, teria sido também ludibriada, pois dizes que não tens nada.
- Terias, de facto, sido ludibriada, minha querida - confessou-, mas não estarias perdida, pois quinze mil libras chegariam para nos mantermos muito bem nesta terra. Garanto-te, além disso, que tomara a resolução de aplicar em ti todo o dinheiro, não te tiraria um xelim e recompensar-te-ia pelo resto em afecto e ternura, enquanto vivesse.
