No entanto, voltou-se para mim e disse apenas:
- Continua. - E ficou calado, à espera dos meus esclarecimentos.
- Perguntei-te a noite passada - prossegui - se alguma vez me vangloriei de possuir alguns bens ou se te disse que os tinha no Banco de Inglaterra ou em qualquer outro lado, e tu concordaste que não falara nunca em tal coisa, o que é a pura verdade. Desejo agora que digas, diante da tua irmã, se alguma vez te dei motivos para pensares que tinha bens ou se falámos nesse assunto.
Concordou, de novo, que não, mas acrescentou que eu sempre parecera uma mulher de fortuna e ele contara que o fosse e esperava não se ter enganado:
- Não te pergunto ainda se te enganaste ou não - repliquei-lhe-, mas receio que sim, e eu também. Quero, no entanto, ilibar-me da acusação injusta de ter contribuído para te enganar e, por isso, perguntei à tua irmã se alguma vez lhe falei nalguma fortuna ou nalguns bens que possuísse ou lhe referi pormenores a tal respeito, e ela respondeu-me que não, que nunca o fiz.
Voltei-me então para ela e prossegui:
- Peço-lhe que, diante do seu irmão, faça a justiça de me acusar, se puder, de alguma vez ter pretendido possuir bens. Poderá explicar, também, por que motivo, sendo isso verdade, viria para esta terra consigo, a fim de poupar o pouco que tinha vivendo barato?
Não pôde negar uma só das minhas palavras, mas afirmou terem-lhe dito em Londres que eu possuía uma fortuna muito grande no Banco de Inglaterra.
- Agora, meu caro - continuei, voltando-me para o meu novo esposo -, peço-te a justiça de me dizeres quem nos enganou a ambos ao ponto de te levar a crer que eu era rica e de te instigar a desposar-me?
Apontou a irmã, incapaz de proferir palavra, e, após uma pausa, explodiu na fúria mais terrível em que jamais vira um homem na minha vida, amaldiçoando-a, chamando-lhe todos os nomes feios imagináveis, acusando-a de o ter arruinado e declarando que o informara de que eu possuía quinze mil libras, das quais ela recebia uma comissão de quinhentas por ter proporcionado aquele casamento.
