Se eu fosse, de facto, rica teria ficado furiosa com a megera por me haver enganado, mas não daria por mal empregada nele a minha fortuna, visto ser, deveras, uma pessoa encantadora, de princípios generosos e possuidora de bom senso e muito boa disposição.
Naquela noite pouco dormimos, pois conversámos muito, e ele mostrou-se tão arrependido de todas as mentiras que me pregara como se houvesse praticado um roubo grave e tivesse sido condenado à morte.
Ofereceu-me, mais uma vez, todo o dinheiro que trazia consigo, dizendo-me que se alistaria no Exército e correria mundo para arranjar mais.
Perguntei-lhe porque seria tão cruel ao ponto de me levar para a Irlanda se, como tudo o indicava, não poderia manter-me lá, e ele abraçou-me e respondeu:
- Acredita, minha querida, que nunca tencionei ir para a Irlanda e muito menos levar-te para lá, mas, sim, vir para aqui, a fim de ficar longe das vistas das pessoas a quem tinham constado as minhas pretensões e, ao mesmo tempo, para que ninguém me pedisse dinheiro antes de eu o ter para o dar.
- Mas, nesse caso, para onde iríamos a seguir? - perguntei.
- Explicar-te-ei todo o plano, como o imaginei: propunha-me falar-te aqui dos teus bens, como fiz, e quando tu, como eu esperava, me pusesses mais ou menos ao corrente da situação, inventaria uma desculpa qualquer para adiarmos durante algum tempo a nossa ida para a Irlanda e seguiríamos primeiro para Londres. Depois, minha querida, confessar-te-ia toda a verdade a meu respeito, informar-te-ia dos artifícios a que recorrera para obter o teu consentimento em desposar-me e nada mais me restaria que pedir-te perdão e afirmar-te, como já afirmei, que tudo faria para que esquecesses o passado graças à felicidade dos dias futuros.
