E não era como ela supunha, pois estava na verdade casada e tinha marido, mas ele não podia aparecer por se encontrar naquele momento em situação deveras crítica e muito longe.
Interrompeu-me e asseverou-me não ter nada a ver com esses pormenores; considerava mulheres casadas todas as senhoras que se confiava aos seus cuidados.
- Toda a mulher que traz um filho no ventre tem um pai para ele - afirmou; e se esse pai era ou não era seu marido, não lhe dizia respeito. O que lhe respeitava, isso sim, era ajudar-me nas circunstâncias em que me encontrava, tivesse ou não marido. - Pois, minha senhora, ter um marido que não pode aparecer equivale a não o ter e, portanto, é-me indiferente que seja esposa ou amante.
Não tardei a compreender que, quer fosse esposa, quer amante, passaria inevitavelmente por amante no conceito dela, e não insisti mais. Não deixava de ter razão, redargui-lhe, mas, se tinha de lhe contar o meu caso achava preferível expô-lo como na verdade era. Resumi o mais que podia e concluí assim:
- Incomodei-a com todos estes pormenores não por, como a senhora disse, serem da sua conta, mas principalmente para demonstrar que não me aflige ser vista ou não ser vista, pois isso é-me completamente indiferente. A minha dificuldade consiste em não ter quaisquer conhecimentos nesta parte do país.
- Compreendo, minha senhora; não tem qualquer garantia para impedir as impertinências da paróquia, habituais em tais casos, e talvez não saiba muito bem como dispor da criança, quando ela nascer.
- A última parte não me preocupa tanto como a primeira – redarguiu.
- Bem, minha senhora, atreve-se a confiar-se nas minhas mãos? - perguntou-me a parteira. - Embora eu não precise de me informar acerca da senhora, a senhora pode informar-se a meu respeito.