As notícias que me dava surpreenderam-me muitíssimo e comecei a reflectir seriamente nas minhas actuais circunstâncias e no tremendo infortúnio de me encontrar com um filho nos braços e sem saber que faze Por fim resolvi contar vagamente o meu caso à minha governanta. Durante vários dias mostrei-me melancólica e apreensiva e ela não se cansou de me perguntar o que me inquietava. Não podia, ai de mim!, confessar-lhe que recebera uma proposta de casamento, depois de tantas vezes lhe haver afirmado que tinha marido, e por isso não sabia, francamente, que dizer-lhe. Aquiesci que tinha, de facto, uma coisa que muito me preocupava, mas que não podia revelá-la a ninguém no mundo.
Continuou a importunar-me durante alguns dias, mas respondi-lhe sempre ser-me impossível revelar o segredo fosse a quem fosse, o que tinha o condão de lhe exacerbar a curiosidade e aumentar a sua insistência. Afirmava que lhe tinham revelado os maiores segredos, que fazia parte da sua vida ocultar tudo, pois que o contrário seria a sua ruína, e perguntava-me se alguma vez me falara dos assuntos de outras pessoas. Que razões tinha eu então para duvidar dela? Acrescentou que desabafar consigo equivaleria a não contar o meu segredo a ninguém, pois era muda como um túmulo, que muito estranho teria de ser o caso para que não pudesse ajudar- -me e que calar-me era privar-me de todo o auxílio, ou meios de auxílio possíveis, possuía uma eloquência tão cativante e tão grande poder de per- suasão que era impossível ocultar-lhe fosse o que fosse.
Decidi, por isso, desabafar com ela.