A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 193 / 359

Um dos motivos que levaram o estalajadeiro a mostrar-se tão discreto baseava-se no seu desejo de que o pastor da paróquia não soubesse do sucedido. Não obstante todo o segredo, alguém teve conhecimento do caso e, de manhã cedo, os sinos tocaram e tivemos música debaixo da janela, mas o estalajadeiro correu com os músicos e explicou que nós casáramos antes de chegar e quiséramos que o nosso jantar de bodas fosse em sua casa por sermos seus antigos clientes.

No dia seguinte não tivemos ânimo para nos levantar; como os sinos nos haviam acordado muito cedo e pouco dormíramos, estávamos tão ensonados que permanecemos na cama até quase ao meio-dia.

Roguei à estalajadeira que fizesse o possível por não termos mais música nem toque de sinos, e ela saiu-se tão bem da incumbência que nos deixaram em paz. No entanto, um incidente singular interrompeu a minha alegria durante um bom bocado. Como o dia estava quente e agradável e o meu novo esposo se encontrava no andar de baixo, abrira a janela da sala grande da estalagem e quedara-me junto dela, a tomar um pouco de ar, quando vi chegar três cavaleiros, que entraram numa estalagem que ficava defronte.

Reconheci, sem sombra de hesitação, no segundo dos três cavaleiros, o meu marido do Lancashire e, mortalmente assustada, consternada como jamais me sentira na vida, receei cair desmaiada, o sangue gelou-se-me nas veias e tremi como se estivesse com um ataque de sezões. Repito, não me restava a mínima dúvida de que era ele; reconheci as suas roupas, reconheci o seu cavalo e reconheci o seu rosto.

A primeira coisa em que pensei foi que o meu marido não podia ver a minha perturbação, por não se encontrar presente, o que muito me agradava. Pouco depois de estarem na estalagem, os cavaleiros chegaram à janela do quarto, como é hábito, mas podeis estar certos de que a minha janela estava já fechada.





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