Não resisti, contudo, a espreitar, vi-o novamente e ouvi-o chamar uma das criadas da casa, para lhe pedir qualquer coisa, o que confirmou a terrível certeza de se tratar da pessoa que eu receava.
Pensei que devia saber, se pudesse, o que ali o levara, mas foi empresa impossível. A minha imaginação não se cansava, entretanto, de me sugerir ideias assustadoras, levando-me a recear que me tivesse descoberto e estivesse ali para me verberar a ingratidão e a quebra de palavra. Temia a todo o instante ouvi-lo subir a escada para me insultar, e foram inúmeras as fantasias que me atormentaram, fazendo-me atribuir-lhe intuitos que ele não tinha nem podia ter, a não ser que o Demo lhe houvesse dito o que se passava.
Permaneci neste pavor durante quase duas horas, mal ousando desviar os olhos da janela ou da porta da estalagem onde os cavaleiros se encontravam. Por fim ouvi um grande tropel, corri à janela e, com grande satisfação, vi-os sair a todos e seguirem para oeste. Se tivessem seguido na direcção de Londres, o medo não me abandonaria perante a possibilidade de nós encontrarmos na estrada e de me reconhecer; mas seguiam na direcção oposta e isso acalmou a minha perturbação.
Decidimos partir no dia seguinte, mas cerca das 6 da tarde alarmou- -nos um grande alarido na rua e gente a cavalgar desesperadamente, como se tivesse perdido o juízo. Não tardámos a saber tratar-se de uma perseguição a três ladrões de estrada que tinham assaltado duas diligências e alguns viajantes próximo de Dunstable Hill, os quais, segundo constava, haviam sido vistos, precisamente, na estalagem fronteira à nossa, para a qual eu vira entrar os três cavaleiros.
A estalagem foi imediatamente cercada e revistada, mas não faltavam provas de que os três cavaleiros haviam partido mais de três horas antes.
