Pensei então que talvez ela me pudesse auxiliar um pouco proporcionando-me algum emprego, pois, na situação em que me encontrava, deitaria de bom grado a mão a qualquer trabalho honesto que me aparecesse. Mas nesse capítulo não me pôde valer, pois os empregos honestos não eram a sua especialidade. Se fosse mais nova, talvez me pudesse ajudar a ser dama galante, mas eu renegara esse género de vida, que aliás estava fora de questão depois dos 50 anos - e eu tinha-os, como lhe disse.
Convidou-me por fim a ir para sua casa até encontrar qualquer ocupação, afirmando que me levaria muito pouco dinheiro por isso, e eu aceitei de bom grado. Vivendo agora com um pouco mais de tranquilidade, pensei em livrar-me do meu filho mais novo, que tivera do meu último mari- do, e ela voltou a ajudar-me, com a condição de pagar apenas cinco libras por ano se pudesse. Foi um alívio tão grande que durante muito tempo desisti da triste profissão a que ultimamente recorrera e de bom grado ganharia o meu pão apenas com trabalhos de agulha, se os tivesse arranjado; mas isso era muito difícil para quem, como eu, não conhecia ninguém.
Por fim lá consegui várias encomendas de colchas para camas de senhoras, algumas anáguas e coisas semelhantes. Contentíssima, trabalhei com afã e comecei a viver do que ganhava, mas o diligente demónio que tinha dentro de mim decidira que continuasse ao seu serviço e não se cansava de me instigar a sair para um passeio, para ver se alguma coisa me tentava.
Uma tarde obedeci cegamente à sua insistência e dei um longo passeio pelas ruas, mas não encontrei nada e regressei a casa fatigadíssima. Não contente com isso, voltei a sair na tarde seguinte e, ao passar por um botequim, vi uma porta aberta, num cubículo, perto da rua, e, em cima da mesa, uma caneca de prata para cerveja, objecto muito em uso em botequins da época.
