Ao que parece, alguns clientes tinham estado ali a beber e os descuidados marçanos haviam-se esquecido de a arrumar.
Entrei sem hesitar, coloquei a caneca de prata no canto do banco, sentei-me e bati com o pé, a chamar alguém. Pouco depois apareceu um rapaz, a quem pedi uma caneca de ale quente (Cerveja inglesa de sabor amargo e cor clara), pois estava frio. O rapaz afastou-se e ouvi-o descer à cave para tirar a cerveja. Entretanto apareceu outro moço, que me perguntou:
- Chamou?
- Não, pequeno - respondi-lhe, em tom melancólico. - O teu colega foi-me buscar uma caneca de cerveja.
Enquanto esperava, ouvi a mulher do balcão perguntar: «Já se foram todos embora, os do cinco?» O «cinco» era o cubículo onde me encontrava. «Já», respondeu-lhe o rapaz. «Quem arrumou a caneca de prata?», quis saber a mulher. «Eu», respondeu outro rapaz. «E esta», acrescentou, apontando, parece, para outra caneca que retirara, por engano, de outro com- partimento (a não ser que o patife se tivesse esquecido de que não a recolhera, como na verdade sucedera).
Ouvi esta conversa com muita satisfação, pois verifiquei que não tinham dado por falta da caneca e a supunham, até, arrumada. Bebi a minha cerveja, chamei para pagar e, ao sair, avisei, referindo-me à vasilha em que me tinham servido:
- Toma cuidado com a tua prata, meu filho.
- Sim, minha senhora, obrigado - redarguiu o rapaz, e eu saí.
Voltei a casa da minha governanta e pareceu-me que chegara a altura de a experimentar, isto é, de verificar se poderia ser-me de alguma utilidade se eu fosse descoberta. Quando, algum tempo depois de chegar a casa, tive ensejo de lhe falar, disse-lhe que desejava confiar-lhe um segredo gravíssimo, se se comprometesse a guardá-lo como tal.
