No entanto, estas reflexões não deixavam de me impressionar e obrigavam-me a proceder com mais cautelas que antes e mais até que as usadas pelas minhas orientadoras. A minha camarada, como eu lhe chamava (embora lhe devesse chamar, com mais propriedade, professora), e outra das suas alunas foram as primeiras vítimas da pouca sorte. Certa vez em que andavam a procurar presa fizeram uma tentativa num fanqueiro de Cheapside, mas foram descobertas por um empregado com olhos de lince e apanhadas com duas peças de cambraia.
Foi o bastante para irem parar as duas a Newgate, onde tiveram o infortúnio de não estarem esquecidos alguns dos seus anteriores delitos. Agravada a sua situação com duas outras acusações e provados os factos, foram ambas condenadas à morte e alegaram que se encontravam grávidas, sendo declaradas prestes a dar à luz, embora a minha mestra estivesse tanto de esperanças como eu.
Fui vê-las muitas vezes e compadecer-me da sua sorte, esperando que a seguir fosse a minha vez, mas o local causava-me tanto horror ao pensar que ali nascera e que fora aquele o cenário dos infortúnios da minha mãe que não o pude suportar muito tempo e acabei por interromper as minhas visitas.
Se ao menos as suas desditas me servissem de exemplo, poderia ainda ser feliz, pois estava livre e não tinha acusações contra mim; mas a minha taça de amarguras não se enchera ainda.
A minha camarada foi executada, em virtude de ser reincidente, e a aluna, por ser a primeira vez, obteve suspensão da sentença, passou fome na cadeia durante muito tempo e foi finalmente abrangida por uma amnistia e posta em liberdade.
O exemplo terrível da minha camarada assustou-me muitíssimo e durante algum tempo não fiz nenhuma surtida; mas uma noite, na vizinhança da casa da minha governanta soou o grito de «Fogo!» A minha governanta foi espreitar, pois estávamos todos a pé, e informou-nos imediatamente que a casa de tal fidalga ardia de alto a baixo, o que era verdade.
