Mal chegara à rua vi outra mulher dirigir-se-me.
- Ai que a senhora deixa cair o pequenino! - exclamou, condoída. - Nestas ocasiões somos uns para os outros; ande, deixe-me ajudá-la- palavras não eram ditas, deitou a mão ao embrulho, para o levar.
- Não - repliquei. - Se quer ajudar-me, dê a mão ao pequenito e conduza-o apenas até à parte de cima da rua. Irei consigo e agradecer-lhe-ei o incómodo.
Não teve outro remédio senão fazer o que lhe dizia, mas percebi logo que tinha o mesmo ofício que eu e só lhe interessava o embrulho. No entanto, acompanhou-me à porta, pois, como disse, depois das minhas palavras mal seria que o não fizesse, e aí segredei-lhe:
- Vá-se embora, minha filha; sei qual é o seu comércio. Talvez encontre outra presa.
Compreendeu-me e pôs-se a caminho, enquanto eu batia à porta, com as crianças. Como os da casa estavam levantados, acordados pelos gritos de «Fogo!», não tardaram a mandar-me entrar.
- A senhora está acordada? - perguntei. - Digam-lhe, por favor, que Mrs.... lhe roga que tome conta dos dois inocentes; a pobre senhora está desgraçada, com a casa num braseiro.
Aceitaram os dois pequenitos muito delicadamente, lamentaram a família atingida pela tragédia e eu saí com o embrulho. Uma das criada! ainda me perguntou se não o devia deixar também, mas respondi-lhe:
- Não, minha filha, isto é para outro lado; não pertence aos sinistrado Cheia de pressa, corri para casa com o embrulho da prata, sem que ninguém me detivesse, e entreguei-o à minha velha governanta, a qual me prometeu que não lhe mexeria e me obrigou a sair e a procurar mais.
Dera-me as instruções necessárias para proceder do mesmo modo com a senhora da casa ao lado da incendiada e eu fiz o possível por lhe obedecer, mas entretanto o alarme tornara-se tão grande, eram tantas as bombas em acção e as pessoas que atravancavam a rua, que não consegui acercar-me da casa em questão, regressei e, levando o embrulho para o meu quarto, comecei a examinar o seu conteúdo.
